Há algum tempo me peguei pensando: O que um advogado foi fazer na NASA? E ainda não tenho essa resposta de forma precisa. Pode ser que ainda demore algum tempo para processar o que vi, vivi e aprendi, espero que não leve mais tempo do que as novidades que pude vislumbrar lá, já sejam comuns em nosso meio.
Estou falando de duas experiências recentes que tive na SingularityUniversity, instalada no NASA Ames Research Park, na Califórnia.
Primeiramente em agosto/2016 me juntei a outros 1.400, no primeiro Global Summit, realizado em São Francisco, onde por três dias tive o primeiro contato, mais direto, com o que se pensa, se produz e se prevê nessa universidade que tem como mantra a Exponencialidade.
Nesse primeiro momento já me surpreendi com a quantidade de advogados de todo mundo, imaginei que estaria em meio a cientistas, pesquisadores da área de tecnologia, investidores, CEOs de Startups buscando investimentos, profissionais da área de saúde, etc, e sim, todos estavam lá, mas não localizei uma roda sequer que o “Lawyer” escrito em meu crachá, não chamava atenção de algum outro colega Advogado de toda parte do mundo.
Encontrei apenas um outro advogado brasileiro, mas que se apresentava como CEO de uma Startup de tecnologia, então, apesar de não poder assegurar ter feito uma busca extremamente criteriosa, me percebi com o único ou um dos poucos juristas brazucas.
Três dias de trabalho intenso de literalmente ferver a cabeça.Palestras e oficinas que mostravam um mundo completamente diferente de todas as previsões que até então eu me encontrava cercado. Desafios da humanidade sendo enfrentados e vencidos em busca de um futuro prospero e abundante.Tenho que confessar que muitas vezes faltava vocabulário para entender a complexidade do que se tratava nas palestras, mas acredito que, por ser algo tão fora do meu ambiente, mesmo se eu ouvisse em português, provavelmente eu enfrentaria a mesma dificuldade.
Afora o destaque para a quantidade de advogados que encontrei, outra coisa que me chamou muita a atenção, foi a importância que se dá ao network, muitas vezes deixado em segundo plano aqui no Brasil, ou melhor, apenas abordado quando se busca vantagens em se conhecer alguém.
Além de toda uma inscrição que fiz antes de comparecer ao evento, respondi uma série de pesquisas, gravei vídeos, preenchi formulários, e com todos os dados que eu, e todos os participantes fornecemos previamente, algum gênio propôs um cruzamento de interesses e quando foi me entregue o crachá e materiais no primeiro dia, também recebi um cartão, com três nomes de pessoas com interesses similares aos meus, sendo minha missão encontra-los e interagir com os mesmos.Dica sensacional para utilizarmos em eventos que promovemos, valorizando o network podemos criar um verdadeiro legado que vai muito além do que os palestrantes podem ofertar de conhecimento.
Em dezembro, já em um ambiente muito mais restrito, não posso classifica-lo como sala de aula, pois quisera eu atuar num ambiente escolar naqueles moldes, mas juntamente com 93 pessoas de todo mundo, permaneci imerso nessa universidade por 7 dias, no ExecutiveProgram. Alguns brasileiros, destes alguns residentes no Brasil, e dessa vez, brasileiro advogado eu era o único, o que me permitiu inclusive, em um dos debates que foram propostos, incluir na tese do meu grupo peculiaridades do nosso universo jurídico.
Não é tarefa das mais fáceis, destacar algum assunto que mais tenha me chamado a atenção, pois, estudar sobre longevidade, avanços na reprodução humana, futuro da medicina, robótica, e até futuro dos crimes, era o tempo todo surpreendente, espantoso, e em alguns momentos até assustador, entretanto, preciso destacar dois pontos, que realmente me impactaram: O Futuro da educação e do trabalho.
Os recursos que hoje já temos, e a potencialidade (ou exponencialidade) de crescimento dos mesmos, para serem utilizados como ferramentas na educação é de tirar o fôlego. O quanto pode ser determinante aprendermos a utilizar ferramentas de realidade virtual e realidade aumentada como meio de promover educação é fascinante. Tornar o processo de aprendizado dinâmico e principalmente interessante é um desafio, pois já estamos vivenciando uma geração de crianças que é completamente diferente do que fomos, as próximas que virão provavelmente as consideraremos praticamente de outra espécie.
Futuro do trabalho é algo intrigante, pois, será que devemos temer o avanço da tecnologia, ou está nos proporcionará cada vez mais conforto e praticidade?
Robôs tomarão nossos empregos? Se não os nossos, quem perderá o trabalho para as maquinas?
Questões como essas sempre nos assombrarão, entretanto, o legado hollywoodiano contribuiu para que tal previsão seja assustadora, quando na verdade convivemos com “robôs” o tempo todo, em que pese não adotemos esse nome com tanta frequência.
Provavelmente, o trabalho desempenhado por tais maquinas, no futuro próximo seja exatamente a tarefa que nós não queremos fazer, assim o que será proporcionado é conforto, praticidade, tempo extra, etc.
A pergunta que deve ser feita é: O que fazer com o tempo que me sobrará em razão do desenvolvimento tecnológico? Tais praticidades quea tecnologia nos trás ha tempos, incorporam-se em nossa rotina diária, sem maiores celeumas, e isso é algo que sempre quisemos e devemos continuar querendo. Mas, se encararmos tal avanço como desafios ou obstáculos, somente nós sofreremos com isso, pois, infelizmente ou felizmente, nada vai deixar de ser desenvolvido por que incomoda um acomodado.
Ainda, vale o destaque que, em que pese já estarmos à porta de novas regras brasileiras sobre limitação de uso da internet,etc, a turma de lá está avançando em sentido contrário, ou seja, internet de qualidade, rápida, de baixíssimo custo, ou até gratuita, mas principalmente inclusiva. Em breve já seremos 9 bilhões de habitantes na terra, e tem muita gente que pretende colocar 100% da humanidade conectada antes mesmo de atingirmos esta quase dezena de bilhões de seres humanos.
Nesse ponto surge novos questionamentos: O que temos nós a oferecer aos futuros seres conectados em nossa rede? Ou melhor: Como poderemos tentar auxiliá-los a, ao utilizar esse tão importante meio integrador de pessoas, fazerem de modo um tanto quanto mais hábil, generoso, solidário, não invasivo, e até menos chato, do que ultimamente estamos fazendo?
Torçamos para que os futuros conectados se integrem melhor que nós.
Guardo como experiência memorável a vontade de todos em interagir. Não haviam mais ou menos importantes, não haviam bilionários e reles mortais como eu, não haviam pessoas de países desenvolvidos e outros de regiões em desenvolvimento. Haviam pessoas que se julgavam iguais, e que valorizavam muito mais o outro que o EU. Fiz amizades que tenho certeza que durarão para sempre, tenho pouso em quase todo o mundo, e ainda busco meios de aproximar essa nova comunidade a nossos ambientes locais.
Mesmo correndo o risco de já não contar com toda sua atenção nesse momento do texto, preciso voltar à questão inaugural: O que fazia um advogado na NASA? Vou permanecer buscando essa resposta, mas já adianto: a inquietude que norteou a busca da minha vida por novidades e conhecimento, sempre me colocou em excelentes aulas, em paginas de brilhantes autores, e em boas rodas de conversa, pois sempre volto a uma frase que foi um mantra em minha juventude: “Não busco saber tudo sobre nada, mas sim saber um pouco sobre tudo.” Daqui pra frente, farei isso exponencialmente.
Saudações do professor e advogado que ainda está no caminho do Espaço.
Bruno Torquete Barbosa
Advogado na banca do escritório Duilio Piato e Advogados Associados, Especialista em Direito Tributário e professor Universitário.